9 de julho de 2012

Aliança Luluf e a crise do sistema partidário.

Reproduzo aqui entrevista concedida por Luiz Werneck Vianna para o Estadão, publicada na edição de 24.02.2012, sobre a aliança entre o PT e Maluf nas eleições Municipais de SP.

A racionalidade do pragmatismo na condução da campanha de que esse episódio serve de exemplo é bem representativa da crise do sistema eleitoral e da urgência da reforma política tão demandanda quanto, paradoxalmente, tão esquecida.


Aliança nos jardins de Maluf é rendição

Luiz Werneck Vianna - Junho 2012


"A política ideal não pode prescindir da política real”, diz Luiz Werneck Vianna, professor da Faculdade de Sociologia da PUC-Rio ao avaliar o pacto entre o PT e o PP de Paulo Maluf, que motivou a desistência de Luiza Erundina (PSB) da vice de Fernando Haddad. Nesta entrevista ao Estado, ele, porém, avalia: o PT ultrapassou o limite da defesa de sua identidade. “Fazer a aliança nos jardins da casa do Maluf é uma rendição” (Fernando Gallo).


Há, no episódio envolvendo Erundina, Maluf e o PT, o debate sobre a política ideal e a política real. Qual deve prevalecer?

A política ideal não pode prescindir da política real.

Qual o limite das concessões?

Essa aliança foi feita para realizar que valores? Ela serve para que o partido se fortaleça? Certos limites não podem ser ultrapassados. Um deles é a defesa da sua identidade. Que partido é esse que abdica do seu DNA e a todo momento faz mercado disso para obter vantagens? Essa aliança compromete o PT.

O PT precisa efetivamente dessa concessão por mais minutos de televisão? Em uma sociedade de massas, como a nossa, seria possível vencer sem eles?

Sem tempo nenhum é impossível. Mas o partido tinha tempo, e outras vantagens poderiam ser exploradas. Em nome desse tempo, a aliança vai interferir na imagem do candidato.

O PT argumenta que dirige o carro, e os aliados tidos como indesejáveis são apenas caronas.

Essa aliança não encontra sustentação em motivos fortes. O tamanho do perigo não justifica essa manobra audaciosa.

O partido avalia que o governo Lula não teria tanto êxito sem um amplo arco de alianças.

O mesmo pode-se dizer em relação ao governo Fernando Henrique. Mas a identidade de PSDB e PT tem uma diferença na formação, no histórico político. O PT se pretendia uma força mobilizadora da sociedade para a mudança. Essa aliança com Maluf demonstra que esse caminho foi abandonado.

As mudanças ocorridas na última década teriam sido possíveis sem as alianças que o PT fez?

Não podemos olhar a política apenas por esse ângulo estreito dos partidos. Vivemos uma mutação de enormes proporções na história republicana brasileira. Essa mutação vem significando uma cada vez maior redução da capacidade decisória do governo diante da sociedade.

Estamos vivendo a hegemonia da pequena política?

Há grande política agora no País. A Rio+20 é um momento de grande política. Houve uma passeata no Rio de Janeiro, praticamente não anunciada, que reuniu 30 mil pessoas em nome da defesa de múltiplos direitos.

É tão simbólico o sacramento da aliança na casa de Maluf?

Vários analistas já observaram que o mundo simbólico tem a sua esfera própria. A aliança podia ter sido feita nos corredores palacianos. Fazê-la nos jardins da casa do Maluf pareceu mais como uma rendição. No Pacto Ribbentrop o Stalin não apertou a mão do Hitler! Ele mandou um embaixador.

O PT defende a tese de Paulo Freire, de que é preciso “unir os diferentes para combater os antagônicos”. Faz sentido?

Faz. Desde que se tenha muito claro contra quem se aplica o antagonismo. É contra uma outra versão da social-democracia brasileira, o PSDB? Não chega a ser um antagonismo, uma oposição de classe contra classe.

O Maluf não é mais antagônico ao PT do que o PSDB?

Sim. A política brasileira está desarrumada porque você tem a mesma formação político-ideológica, a da social-democracia, arrumada em dois diferentes partidos, o PT e o PSDB. O PSDB é um antagonista falso. O verdadeiro antagonista deveria ser o atraso. O Sarney, o Maluf.