18 de setembro de 2008

Quando não são as gêmeas que caem são os Brothers: um pouco da crise.

Nunca gostei de ler jornalistas, escritores ou cientistas que escrevem sobre o Brasil como se tivessem nascido e crescido na Champs Elysée ou na 5ª Avenida em NY, desprezando o conhecimento e cultura populares para afirmar que toda a desgraça e insucesso do país está na forma como o povo se comporta diante de situações de crise, da incapacidade de gerar soluções alternativas ao subdesenvolvimento, da falta de preparo para o exercício livre dos instrumentos democráticos, etc... Coisas que falam, por exemplo, alguns "intelectuais" como Diogo Mainardi na sua coluna em Veja e outros da grande imprensa.

Mas o que chama a atenção nos escritos de alguns desses pensadores é o discurso em defesa da liberdade, em todos os seus segmentos, como saída exitosa para largar décadas, senão séculos, de atraso e avançar rumo ao desenvolvimento de novas tecnologias capazes de tirar o povo da situação de miserabilidade com a prometida geração de oportunidades na educação, saúde, emprego e renda, como se existisse, de fato, uma fórmula infalível do sucesso e que esta, inevitavelmente, estaria ligada a uma receita econômica de resultados eficientes.

O que parece incoerente, no entanto, é a prática da tão difundida doutrina em tempos pós-modernos.

Verificar o que digo aqui torna-se mais fácil em momentos de crise como a vivenciada hoje, onde se experimenta o caos da depressão nas bolsas de valores de todo o mundo; crise de crédito dos principais bancos de investimento (ex. quebra do Lehman Brothers); desconfiança no sistema financeiro das nações mais ricas entre outras consequências das conhecidas crises cíclicas do capitalismo.

Ora, se o mercado se autoregula e apresenta soluções para os mais variados tipos de crise, porque o FED (Banco Central norte-americano) precisou desembolsar do dia pra noite 85 bilhões de dólares para socorrer a gigante de seguros AIG? Ou ainda porque o Banco Central Europeu em dois dias (15 e 16/09) injetou 170 bilhões de euros para conter a ausência de liquidez em bancos considerados "sólidos"?

De onde sairam os recursos necessários a suavizar a crise que leva tanto temor aos mercados? Não seria do vilão Sr. Estado, monstro voraz, arrecadador de tributos e distribuidor de renda para os preguiçosos e incapazes?

E agora? Onde estão os astutos e arautos defensores das políticas econômicas liberais que depositam sua crença no sistema e confiam grande parte de seu dinheiro em especulação acionária de curto prazo? Resposta: Provavelmente arrancando os cabelos ao verem muitas das ações em que investiram cair até 90% em uma semana - hehehehe. (O tom de piada vem pra descontrair, inclusive porque eu também aplico parte das minhas economias no mercado de renda variável e a queda vertiginosa das bolsas também tem me deixado preocupado - nesse caso, procuro fazer como mandou a ex-Ministra Marta Suplicy = relaxa e goza).

Bom, de tempos em tempos a história se repete, oportuno lembrar o velho "corsi e ricorsi" tratado por Giambattista Vico (http://pt.wikipedia.org/wiki/Giambattista_Vico), historiador, filósofo e jurista italiano que entendia a progressão da história segundo uma cadência ternária (ao ciclo da natureza humana sucedia-se o da natureza poética e a este o da natureza heróica). Teria ele razão? É possível estabelecer alguma relação do que acontece hoje como o que aconteceu em 1999 (crise dos tigres asiáticos) ou mesmo em 1929? E mais, em sendo assim, podemos esperar um planejamento econômico pós-crise liderado e com atuação prioritária do Sr. Estado?


Pra quem, como eu, investiu parte de sua suada grana na Bovepa no embalo do investment grade e das entusiamadas descobertas do pré-sal, por enquanto creio eu, sem qualquer aprofundamento no tema, que a melhor pedida seja esquecer o sobe e desce das bolsas e concentrar esforços no que realmente seja sólido para o nosso dia-a-dia, nessa toada aguardemos o próximo looping dessa montanha russa.

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